Sobre o Projeto AgroVila
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O processo de globalização e industrialização da agricultura e da alimentação humana tem vindo a marginalizar os agricultores familiares, sector fundamental para a manutenção da sustentabilidade dos territórios e sociedades rurais. Em Portugal, muitos destes territórios entraram em desvitalização e abandono, sobretudo nas regiões do interior; os agricultores familiares, sem dimensão económica ou capacidade para competir com a agricultura industrial, abandonaram ou reduziram ao mínimo a sua atividade.
Vastas áreas do território, outrora ocupadas por agricultura, foram convertidas em zonas de produção florestal, em sistema de monocultura, com espécies de crescimento rápido e muito vulneráveis aos riscos ambientais. Ainda assim, alguns agricultores familiares, ganhando escala, foram convertidos em “operários de indústrias de transformação” e em “consumidores de fatores de produção”, sobretudo agro-químicos, sobrevivendo a custo. Com a industrialização da produção e a concentração da distribuição alimentar, os preços pagos aos produtores pelos produtos alimentares sofreram reduções consideráveis, o que tornou muito difícil a sobrevivência das explorações familiares.
Definimos agricultura familiar com um critério clássico para o seu enquadramento: a origem do trabalho utilizado nas explorações agrícolas. Pode considerar-se que no sector da agricultura familiar, mais de 50% da mão de obra utilizada nas explorações é assegurada por elementos da família. Estas explorações apresentam uma dimensão económica relativamente reduzida e os seus proprietários são, muitas vezes, pluriativos e dependem dos apoios do sector, de sistemas locais tradicionais de entreajuda e de transferências dos sistemas de segurança social.
A agricultura familiar é uma atividade que apresenta alguma “invisibilidade” e que, muitas vezes, é desconsiderada pelas políticas que enquadram o sector, nomeadamente os apoios de origem comunitária. Um dos aspetos cruciais da sustentabilidade dos sistemas de produção familiar é o acesso ao mercado.
Nas últimas décadas, o retalho alimentar sofreu grandes mudanças, sobretudo com a abertura dos mercados por efeito da entrada de Portugal na (então) Comunidade Europeia e com a entrada em cena das grandes empresas de distribuição; isto levou ao encerramento do pequeno retalho; este processo iniciou-se na década de 80 do século passado nas zonas mais urbanas e no litoral; mais tarde chegou às zonas rurais do Interior.
Mais recentemente a grande distribuição iniciou processos de comercialização de produtos locais, seja através da organização de grupos de produtores, seja pela absorção de pequenas produções de proximidade. Estas iniciativas são seguramente interessantes e surgem como resposta a uma mudança nos consumidores que valoriza a produção nacional/local, mas, mais recentemente, visa sobretudo minimizar o risco de ruturas no abastecimento e cenários de prateleiras vazias. Mas não se espera que a lógica industrial da distribuição valorize a produção local no longo curso, pelo que é absolutamente necessário colocar em prática estratégias alternativas.
Neste contexto, a possibilidade de desenvolvimento de estratégias de circuitos curtos abre a possibilidade para o escoamento da produção familiar de forma competitiva, garantindo preços justos para os agricultores e consumidores, através de um processo de racionalização da distribuição que envolverá, necessariamente, a eliminação de intermediários em excesso. Permite também que os consumidores possam aceder à produção local e sazonal, contribuindo desta forma para a diminuição da pegada ecológica e para a mitigação das alterações climáticas. Esta lógica enquadra-se na nova estratégia do “Prado ao prato” que está no centro do novo European Green Deal. E, como entende a União Europeia, “novas tecnologias e descobertas científicas, combinadas com o aumento da consciência pública e da procura por alimentos sustentáveis, irão beneficiar todas as partes interessadas”.